A Genialidade é prática: EDIMBURGO

Com certeza deve haver uma forma melhor de fazer isso.

Eu acredito na força das palavras, e creio que as palavras fazem coisas conosco. Um simples pensamento foi capaz de impulsionar o iluminismo escocês: “com certeza deve haver um jeito de fazer isso melhor”.

A era de ouro da Escócia durou menos de cinquenta anos e, apesar de tão curto período de tempo, a minúscula Edimburgo dominou o intelecto ocidental. Os escoceses fizeram enormes contribuições nas áreas de química, engenharia, economia, medicina, sociologia, poesia, filosofia e pintura. Adam Smith deixou a chamada “mão invisível “do capitalismo, James Hutton um entendimento novo e radical de nosso planeta. Em Glasgow, James Watt ocupava-se em aperfeiçoar sua máquina a vapor, que impulsionaria a revolução industrial. Há um pouquinho de Escócia em nossas vidas, quer você queira ou não. Se já usou uma geladeira ou andou de bicicleta, se já fez uma cirurgia e não sentiu dor, agradeça aos escoceses.

As maiores invenções dos escoceses são “àquelas que não se pode tocar, pelo fato de ocupar o campo da mente”. Eles não deixavam suas ideias saírem flutuando soltas no ar. Eles a aterravam no aqui e no agora. Para eles o futuro não é um pouco mais do que uma extensão das coisas que se apresentam no momento presente, ou seja, eles buscavam as sementes do futuro no solo, e não na imensidão do céu.

“Um tipo de mistura de ideias filosóficas com aplicações no mundo real. O escoceses não estavam interessados em discutir o sexo dos anjos. Eles botaram esses anjos para trabalhar”.

 

Alguns dos maiores nomes da medicina europeia nasceram no oeste da Escócia. O médico escocês James Lind descobriu que comer fruta cítrica pode prevenir o escorbuto, uma doença que assolava a vida de marinheiros em todo o mundo. William Buchan, fez uma sugestão radical para a época, de que médicos lavassem as mãos antes de examinar pacientes. Os escoceses foram pioneiros no uso de anestesia cirúrgica com clorofórmio.

James Young Simpson, foi um médico obstetra com uma história marcante. Ele foi admitido na Universidade de Edimburgo aos 14 anos. Enquanto estudante de medicina, recém-formado, ele assistiu a uma cena dolorosa de mastectomia feita sem anestesia. Essa experiência desagradável provocou em Simpson um enorme desejo de resolver esse enigma. Com certeza deve haver uma forma melhor de fazer isso.

Uma noite, enquanto dava um jantar, Simpson encheu uma garrafa de conhaque com clorofórmio, naquele época, pouco se conhecia sobre essa potente substância química e convidou seus amigos a provarem a bebida. Como típicos escoceses, ninguém se recusou a provar a bebida, em pouco tempo, estavam ficando ‘cada vez mais alegres’, segundo uma testemunha. Na manhã seguinte, todos foram encontrados desmaiados na sala.

Simpson teve sorte. Uma dose maior teria matado seus amigos e ele, uma dose menor teria desencorajado sua intuição de que clorofórmio poderia ser usado como anestésico. Ele acertou as proporções, refinou a pureza da substância química, conduziu mais experimentos e em semanas, ele estava sendo usado em cirurgias e partos por toda a Europa.

Como toda inovação, religiosos e até alguns médicos se opuseram à utilização, mas quando a rainha Vitoria permitiu que o clorofórmio fosse usado no parto de seu filho, príncipe Leonardo, o caso tornou Simpson famoso.

Logo, a atrasada Edimburgo se tornou o centro global do ensino médico. Os formandos se espalharam pelo mundo, fundando escolas de medicina em New York e na Filadélfia, entre outros lugares. Eles estavam com tudo, era a tecnologia digital da época e Edimburgo seu Vale do Silício. As mulheres conquistaram o direito para se matricular na faculdade de medicina em 1889. A medicina se mostrou o veículo da genialidade prática escocesa, levando melhorias tangíveis à vida das pessoas. Simpson foi um caso clássico dessa genialidade em ação, e tudo começou com uma intuição.

Não poderia encerrar este post sem citar David Hume, obstinado, socialmente introvertido, um adolescente prodígio que entrou para a Universidade de Edimburgo aos doze anos e que se tornou um homem de ideias e ações. Estudou Direito, como sua família queria, mas aos invés dos livros jurídicos, ele devorava autores como Cícero e Virgílio. Ele escreveu seu Tratado da Natureza Humana na casa dos vinte anos. O livro foi um fracasso. Ele persistiu e logo ganhou notoriedade em toda a Grã Bretanha e fora dela. Hoje, seu Tratado que explica quase todas as suas ideias filosóficas, é considerado uma das maiores obras da filosofia.

Hume almejou entender como nós entendemos. De onde obtemos o conhecimento? Após se empenhar em uma série de experiências cognitivas, ele chegou à então conclusão de que todo o conhecimento chega através de experiências diretas – através de nossos sentidos e apenas deles. Ele era racionalista, e dizia “satisfaça sua paixão pela ciência, mas permita que sua ciência seja humana”. Com essas e outras palavra, Hume revirou séculos de pensamento filosófico.

Está é uma parte da síntese de minhas anotações do capítulo de Edimburgo, e que não reproduz a riqueza de informações contida no livro de Eric Weiner – ONDE NASCEM OS GÊNIOS.

Fica aqui a dica da leitura do livro.